No dia a seguir a partir para Estrasburgo saiu um artigo no Ípsilon sobre um livro dedicado aos Cinemas de Lisboa (pode-se ler aqui). O livro faz o retrato de uma cidade que teve grandes cinemas e que os perdeu todos. Hoje em dia, só existem em Lisboa 3 cinemas correntes, que não estão enfiados dentro de um centro comercial: o King, o Londres e o City Classic Alvalade (no Porto a perspectiva é muito mais deprimente, porque não só não existe nenhum cinema fora de um centro comercial, como nem sequer existe nenhum cinema dentro da cidade...)A autora do livro diz que Lisboa abraçou o cinema no séc. XX, mas mais que isso, que fomos dos primeiros europeus a compreender o cinema. O problema é que tal como compreendemos, também deixámos de compreender e a cultura cinematográfica perdeu-se...
Em Estrasburgo num raio de 300 metros do meu hotel havia 4 cinemas, o Star Saint-Exupéry, o Vox (que tinha um belo néon), o Odyssée (que tinha uma semana de cinema turco) e o Star (que ficava na mesma rua que o hotel). Mas mais do que o número de salas, o surpreendente era o que estava nas salas.
O cinema da minha rua devia ter umas 5 salas, mas pelo menos uns 10 filmes em cartaz. Entre eles o Tabu, não só destacado pelo papel a dizer "coup de coeur", mas também no programa do cinema onde vinha destacado como filme do mês. Nesta sala estavam também 2 filmes de Jean Renoir em cópias novas, The River e Le Carrosse d'Or. E ainda o American Graffiti, mais filmes indie, mais cenas para crianças, mais um filme sobre o pintor Auguste Renoir, chamado Renoir e que criava a confusão na fila para a bilheteira, com as pessoas que queriam ver os filmes do Renoir.
Mas para nós, o que este cinema tinha de extraordinário era isto, num domingo à tarde, quando me decidi a ir ver o Le Carrosse d'Or, haver uma grande fila para o cinema, com uma rapariga a tentar organizar a fila pela ordem das sessões (que começavam atrasadas, à espera que todos tivessem tempo de comprar o seu bilhete e entrar sem perder nada do filme)...
A diferença não está no número de cinemas que existem na cidade, mas no facto de haver de facto público interessado em vê-lo.

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