24 julho 2007
O CINEMA NÃO É a N-A-R-R-A-T-I-V-A!!!
Depois de ter visto o Death Proof do Quentin Tarantino estive a ler vários posts sobre o filme, nalguns blogs "cinéfilos", e queria responder aqui o que eu acho do filme e do cinema em geral.
O cinema, felizmente, já ultrapassou a narrativa! Um filme NÃO É a história que ele conta!
Os melhores filmes dos últimos anos, são os que ultrapassaram a história e construiram algo de mais, um olhar específico, um ambiente, um clima, etc.
Alguns exemplos: Os dois últimos Gus Van Sant, Elephant (que se recusava a qualquer tipo de explicação) e Last Days (que tinha o maravilhoso anúncio no Público "No fim ele morre")
O Inland Empire do Lynch e o Climas do Ceylan, em ambos os casos não é a história (hiper-complexa do primeiro, e hiper-simples do segundo) que interessa, mas sim a viagem. Ou o Marie Antoinette onde não interessa a história e muito menos a História, só interessa uma rapariga perdida num lugar estranho. E claro, o Kill Bill (principalmente o vol.1), cujo plot se resume às duas palavras do título, onde o que interessa é a acção e por isso o filme ainda mal começou e elas já andam à porrada.
O Hitchcock dizia que quanto mais vazio fosse o MacGuffin, mais forte ele era para o filme (no 39 Degraus uma mulher diz ao personagem principal, mesmo antes de morrer, que ele tem que descobrir o segredo dos 39 Degraus, isto põe o herói em acção e nos últimos 5 minutos do filme, um personagem revela o segredo, já não nos lembramos qual é, não tinha interesse nenhum, não era isso que importava para a história, porque a única coisa que interessa é pôr os personagens em acção). O Kill Bill vol.1 é o MacGuffin levado ao extremo, uma mulher que não sabemos o nome, quer matar um homem (de quem só sabemos o nome), para chegar a ele tem que matar não sei quantas pessoas pelo meio, practicamente não há conversa, só acção. É maravilhoso.
Tudo isto para dizer que o Death Proof não é inconsequente, vazio, um bom filme para desligar o cérebro, etc (como li nalguns blogs). Porque não é a profundidade da história que interessa, mas a acção. Os diálogos não têm a menor importância, e para mim são mais interessantes que os tratados teóricos sobre a Madonna, os hamburguers europeus do McDonnalds, as Black Mambas e as BDs do Super-Homem.
(this post may be a spoiler)
O Death Proof NÃO É um filme menor do Quentin Tarantino, é o seu filme mais modesto e mais simples (li esta frase no Cahiers du Cinéma e concordo). Não se perde em teorias, flashbacks, desconstrucções, etc. Uma história muito simples, contada duas vezes, com dois finais diferentes. Mas é uma história muito simples carregada de lixo, riscos na película, miúdas giras com conversas intermináveis e inconsequentes, referências atrás de referências, muitas autocitações e acção, tudo num ponto extremo de gozo puro.
É tudo datado e contemporâneo ao mesmo tempo. A primeira parte parece um filme dos anos 70, os planos são feios e mal feitos (a planificação e montagem da primeira conversa no carro é genial, os planos conseguem colar todos mal), as pessoas parecem dos anos 70, a música, os carros, e depois a Jungle Julia pega no telemóvel e envia um sms, perdemos imenso tempo a ver a mensagem a ser enviada, ao som de música romântica, vemos a resposta, e aparentemente a única importância desta cena é mostrar-nos que o realizador sabe que estamos em 2007. A segunda parte já não é tão datada, porque não precisa, é mais próxima de uma suposta realidade em que vivemos, para nos conseguirmos aproximar do grupo de raparigas ainda mais do que as primeiras. Porque toda aquela conversa serve para nos aproximarmos das raparigas ao ponto de querermos ver a violência sobre elas e ao ponto de querermos vê-las na sua vingança. A segunda parte é a reconstrução da primeira, em diálogo constante com a primeira (como numa destas fotos, a Sidney Poitier, sim ela chama-se assim, dialoga com a Bardot), por isso quando elas se vingam, estão principalmente a vingar as raparigas da primeira parte.
Todas as raparigas deste filme são maravilhosas, giras, cheias de garra e pinta, com os seus rabitos, barriguitas, cabelos e principalmente, deliciosos pés.
As raparigas que foram comigo ver o filme, à sessão da meia-noite como convém a um filme destes, também se sentiram vingadas e bateram palmas no final do filme.
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9 comentários:
Amen!
"We started dancin' all around the floor
And then she did a dance I never saw before."
Bom texto e eu também bati palmas! :)
Li nalguns comments em blogs que as palmas têm sido recorrentes.
Mas acho que é normal, porque o filme provoca uma certa reacção física aquela euforia.
O JLR terminava a sua crítica no Expresso a dizer: "Eu quando vou ao cinema quero que o filme faça amor comigo, e o Tarantino quer que eu fique só."
Não concordo com a segunda parte, mas acho que ele tem razão em dizer que este filme não faz amor, acho que é mais sexo, puro e duro, à bruta, hot hot sex.
Por aqui já sabes a minha opinião. Não tem a ver com narrativa, tem a ver com ter algo para dizer. O Ceylan ao menos tem um sentimento forte de isolamento e solidão que quer passar, o Lynch apresenta um mundo tenebroso, tenso, desconfortável, numa experiência cinematográfica completamente nova. O Tarantino apresenta-se como alguém que agarra na cultura popular, esvazia-a do pouco sentido que já tenha, sublinha o seu lado estiloso e fica feliz. Não tem nada para dizer a não ser um exercício de forma. Porque não então aplaudir os filmes do Bruckheimer ou a trilogia Blade? De estilo estão eles carregados.
O Bruckheimer e o Blade (felizmente) não fazem sexo comigo.
Espero que nao te importes com a glosa que fiz no meu recanto a um trecho do texto (que gostei muito)
devo confessar que foi uma aventura ler as criticas varias a este filme... que adorei!
acho que conseguiste neste comentario dizer tudo o que interessava! 10 points!
bati palmas e agora bato outra vez!
Ainda bem que o vi sem tradução!
Acho que percebi melhor o que ele queria dizer. Mostrar.
Gostei muito desse filme !!!
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