30 dezembro 2011

Melhores filmes de 2011 #16 (ou Sobre o sofrimento de ver um filme pela segunda vez)


In a Lonely Place de Nicholas Ray
(cinemateca- ciclo: "We can't go home again- integral Nicholas Ray")


Devi de Satyajit Ray
(cinemateca- ciclo: "O cinema à volta de cinco, artes cinco artes à volta do cinema: cinema e musicalidade")

Normalmente gosto muito de rever filmes (os bons, claro), mas tive uma reacção particularmente difícil quando revi recentemente estes dois filmes. A constante memória dos respectivos finais assombrou-me durante todo o filme e tudo o que eu sentia enquanto os via era a angústia de saber que acabam mal, sempre, que não há esperança que eles desta vez acabem de maneira diferente.


Na folha da cinemateca de In a Lonely Place fala-se sobre o paralelo que há entre o personagem do Humphrey Bogart e o próprio Ray, quando saí do filme senti-me como a Gloria Grahame, agredido, apaixonado e só.

29 dezembro 2011

Melhores filmes de 2011 #15


Pater de Alain Cavalier
(cinema)

O que eu mais gosto neste filme é nunca sabermos muito bem o que estamos a ver, um realizador e um actor que se filmam um ao outro, e que fazem uma ficção: o realizador é um presidente da república e o actor um candidato a primeiro ministro. Mas o que é maravilhoso é os vários níveis que este jogo pode ter. No trailer há uma cena em que o actor, o Vincent Lindon, diz que começa a acreditar que podia realmente vir a ser primeiro ministro, se se esforçasse, se trabalhasse para isso. Mas o que é genial é que quando eu vi essa cena no filme (vi o filme antes de ver o trailer), não tive a certeza se quem dizia, que acreditava poder ser ministro, era o Vincent Lindon-actor ou o Vincent Lindon-personagem. Nada é o que parece em Pater e principalmente nada tem uma leitura linear.

Melhores filmes de 2011 #14



The Anthem de Apichatpong Weerasethakul
(cinemateca- ciclo: "O mundo mágico de Apichatpong Weerasethakul")

O ciclo integral do Apichatpong na cinemateca incluía 4 sessões de curtas que começavam todas com o mesmo filme, The Anthem, um filme de 5 minutos com apenas 2 planos e que foi um dos filmes que mexeu mais comigo este ano, tornando-se talvez até numa obsessão para mim.
No dia em que o vi pela primeira vez, fui a duas sessões de curtas seguidas e por isso vi o filme 2 vezes, mas apercebi-me que quanto mais o via, mais tinha vontade de o rever. Desde essa altura já o revi muitas vezes, mas continua a deixar-me intrigado. É já o meu filme preferido do Apichatpong, juntamente com o Syndromes and a Century (se é que se pode comparar um filme de 5 minutos com um filme de 105...)

28 dezembro 2011

idle


A Etta James está internada, ligada a um ventilador e sedada, foi-lhe diagnosticada leucemia terminal e demência. Momentos antes de morrer vai acordar, tirar o tubo que tem na boca e, com o resto de voz que lhe sobrar, vai cantar o "At Last". Talvez sobreviva até ao final da música, talvez morra a meio, mas o seu filme terá um belo final.

27 dezembro 2011

Melhores filmes de 2011 #13


Rubber de Quentin Dupieux
(tirado da net, porque já estava farto de esperar que passasse nalgum sítio e não tinha sequer esperança que estreasse no cinema comercial, onde acabou por estar durante uma semana...)

Adoro os filmes do Quentin Dupieux. O Teo disse que este filme era a minha cara. E é. Gostava de o ter feito (mas não o fazia assim).
Não estava à espera que este filme estreasse no cinema, mas estava ainda menos à espera que fosse recebido com tanta indiferença, não houve nenhum crítico que realmente odiasse ou que realmente amasse, tudo mais ou menos indiferente, nada como a crowd da net...



Melhores filmes de 2011 #12



The Tree of Life de Terrence Malick
(cinema)

Há filmes assim, uns odeiam, outros adoram. Eu adorei, mas percebo os haters (alguns)... Admito que a música é horrível (principalmente o Lacrimosa), sei que é tudo tão estúpidamente belo que se torna insuportável e também detesto a cena final... Mas mesmo assim isso não me impediu de amar o filme e de ficar durante semanas obcecado a pensar na montagem alucinante deste filme (já aqui falei sobre isto). A marca que me deixou foi forte e mesmo que não seja perfeito (como era o The New World), foi dos filmes que mais me impressionou este ano.

Dantes falávamos português...


Este ano foi em espanhol, para o ano vai ser em francês!
mais info: aqui.

26 dezembro 2011

Melhores filmes de 2011 #11


Fitzcarraldo de Werner Herzog
(Gulbenkian- programação: Próximo Futuro)

A minha lista dos melhores filmes que vi em 2011 continua, não é um top 10, é um top 20 ou mais, porque o ano ainda não acabou...
Este filme vi numa sessão muito especial que lhe deu uma dimensão bastante mais impressionante, a projecção foi no auditório ao ar livre do jardim da Gulbenkian. Ver este filme, que se passa na Amazónia profunda, rodeado de árvores, enquanto os aviões sobrevoam e os barcos sobem montanhas, torna-o ainda mais extraordinário...

23 dezembro 2011

Melhores filmes de 2011 #10



Two-Lane Blacktop de Monte Hellman
(cinema Nimas- ciclo: "On the road")

Este filme ficou-me aqui a remoer, sem eu me dar muito conta disso. Deu-me vontade de fazer um road movie, e inspirou-me o suficiente para escrever um argumento. Que mais se pode querer de um filme?
Quanto ao meu argumento, it goes a little like this:


Melhores filmes de 2011 #9


Greed de Erich Von Stroheim
(cinemateca- ciclo: "A cor do dinheiro")

Fiquei super overwhelmed com este filme, já tinha visto muitos excertos, mas nunca o tinha visto todo (e não o vi, aliás as teorias divergem sobre o que é o "todo", de qualquer maneira não creio que fosse uma versão perdida de 9 horas...).
Gostei muito de ver uma cena em particular, em que a ZaSu Pitts, na sua representação bastante expressionista, faz o gesto mais codificado da cobiça: o esfregar as mãos enquanto semicerra os olhos. O que eu gostei foi de perceber que o que ela está a fazer, não é esfregar as mãos, mas a pôr creme. Há uma justificação para o gesto, que vai depois ser simbólica na perda.

Melhores filmes de 2011 #8


Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives de Apichatpong Weerasethakul
(cinema)

Sou fã incondicional do Apichatpong. É dos poucos realizadores da actualidade que tem um universo único, que lhe pertence a ele e a mais ninguém. Onde a religião, a tradição, a lenda, a contemporaneidade, a cultura pop e a natureza estão em conjunto e funcionam todas juntas. Com um sentido de humor de uma subtileza brutal e uma sensibilidade inacreditável.
Só assim é possível que um monge que se multiplica possa conviver com uns macacos saídos da ficção científica tailandesa dos anos 70, e com uma princesa feia que faz amor com um peixe.


22 dezembro 2011

Melhores filmes de 2011 #7


Somewhere de Sofia Coppola
(cinema)

Eu sei que toda a gente odiou este filme da Coppola, que não tem nada, que é sempre a mesma coisa, coitadinha da menina rica, etc. Eu adoro-o. Tudo! Digo mais, gostava de ter feito este filme. E é precisamente por não se passar nada, por não ir a lado nenhum e por ser exactamente a mesma coisa que os anteriores (Lost in Translation, Marie Antoinette e Somewhere contam exactamente a mesma história: pessoas perdidas em lugares estranhos, incapazes de comunicar...), mas há realizadores maravilhosos que estão constantemente a contar as mesmas histórias (o Naruse, o Kaurismaki, ou o Wes Anderson, por exemplo).


O filme tem muitas coisas maravilhosas, desde a cena de abertura (ver aqui) que é de uma desolação brutal, às duas cenas das coelhinhas da Playboy, à cena da máscara de latex, que é absolutamente angustiante e sufocante.
Repetição e desolação. É sempre o mesmo, so what?

21 dezembro 2011

Melhores filmes de 2011 #6


Film Socialisme de Jean-Luc Godard
(Culturgest)

Monumento brutal. Tenho a tendência de achar que muitos realizadores deviam pensar mais antes de fazerem os seus filmes. O Godard faz mais do que isso, ele faz os filmes para pensar. Não há filme mais actual que este, que pense tanto o presente como este, o que é difícil, porque como diz o outro, o presente "tem o acesso bloqueado".

20 dezembro 2011

Estreia hoje!

tenho estado a dar uma ajudinha aqui:


Palácio de Cristal Negro
um projecto de
Joana Barrios

Loja Cão Solteiro| Rua do Poço dos Negros, 120
20 a 23 de Dezembro às 21.30h
M/16 | duração 50m | €3 | marcações 93 9746114

19 dezembro 2011

Melhores filmes de 2011 #5


The Last Days of Disco de Whit Stillman
(tv - RTP1, acho eu, já não me lembro muito bem)

Já escrevi aqui um ou dois posts sobre este filme, mas aqui vai mais uma vez...
Nunca fui grande fã do Disco como género musical, pode ser fun de vez em quando, mas kinda boring... Por isso ver um filme sobre o Disco como uma forma de vida, não me parece altamente aliciante.
Mas este filme é muito especial, um filme calminho, com personagens que falam que se desunham e que pelo meio dançam um bocadinho... Triste e hilarious.

Melhores filmes de 2011 #4


Une Femme est Une Femme de Jean-Luc Godard
(dvd)

Um musical onde as pessoas nunca cantam ao mesmo tempo que a música.

18 dezembro 2011

Melhores filmes de 2011 #3




Goshogaoka de Sharon Lockhart
(tirado da net, depois de ter perdido a sessão na cinemateca do ciclo: "O que é programar uma cinemateca hoje?")

63 minutos de aquecimentos de basquete.
Coreografia do princípio ao fim.
Lindo de morrer.

Melhores filmes de 2011 #2


Welfare de Frederick Wiseman
(cinemateca- ciclo: "O que é programar uma cinemateca hoje?")

Há uma cena absolutamente extraordinária em que um homem, com metade da cabeça rapada, fala com um polícia preto, sobre limpar a escumalha (como ele) das ruas de Nova Iorque.
(São os senhores da imagem, embora não se veja que o branco tem a parte lateral da cabeça rapada).
O discurso do senhor é tal e qual o discurso do Travis Bickle, enquanto conduz o seu táxi à noite, mas mais assustador pelo facto de ser uma personagem real, the real deal...

Melhores filmes de 2011 #1


Moi, Un Noir de Jean Rouch
(dvd)

Agora que os jornais e revistas de referência começaram a editar as suas listas de melhores filmes do ano, pus-me a tentar fazer a minha. Cheguei à conclusão que não vi 10 filmes que achasse suficientemente bons para fazer um top 10. Decidi então fazer uma lista do filmes que mais me marcaram este ano, os melhores filmes que eu vi em 2011, em vez dos melhores de 2011.
Por isso aqui vão (um a um, que o ano ainda não acabou e ainda há filmes para ver), sem ordem de preferência, porque há coisas que se amam por razões diferentes e eu sempre odiei a pergunta: Gosta mais do pai ou da mãe.